Informe n.º 547

FSM: Indígenas denunciam violências e querem audiência com Lula

Mais de 60 lideranças indígenas do Brasil e do México estão se preparando para os eventos do III Fórum Social Mundial que começa na tarde desta quinta-feira, 23/01, na cidade de Porto Alegre. Desde o início da semana, eles estão se reunindo na Casa de Retiro Belém do Horto, localizada na zona sul da cidade.

Os primeiros temas debatidos na preparação para o III FSM foram os casos de violência e a indefinição na política indigenista do governo Lula. Os líderes indígenas lembraram que, além dos assassinatos do Macuxi Aldo da Silva Mota (RR), do Guarani-Kaiowá Marcos Verón (MS) e do Kaingang Leopoldo Crespo (RS), pairam ameaças sobre comunidades Pataxó e Pataxó Hã Hã Hãe da Bahia nas regiões do Monte Pascoal e sul do Estado da Bahia, respectivamente, onde fazendeiros tentam expulsar indígenas de terras retomadas nos últimos três anos. >Amanhã é esperada a presença do Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, no Fórum Social. Os representantes da delegação indígena coordenada pela Comissão Pós Conferência querem um encontro com o Presidente. Caso não seja possível durante sua permanência no local, tentarão agendar reunião no Palácio do Planalto, em Brasília, para o próximo dia 29, quando passarão pela capital federal as caravanas dos vários estados representados no III FSM.

A expectativa das lideranças indígenas é solicitar ao presidente Lula mais agilidade na apuração dos autores dos assassinatos dos três indígenas e maior celeridade na definição da política indigenista. Os representantes dos povos indígenas e do Cimi - Conselho Indigenista Missionário, já entregaram ao Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, proposta de Medida Provisória para criação de um Conselho de Política Indigenista, com atribuições de propor diretrizes para política em relação aos povos indígenas e coordenação das atividades desenvolvidas pelos vários ministérios com responsabilidade de atender os povos indígenas.

Hoje, os delegados indígenas participarão da abertura do III Fórum Social Mundial que terá início com uma caminhada da Prefeitura de Porto Alegre até à margem do rio Guaíba, em um local reservado para grandes eventos. Amanhã pela manhã, terão início as oficinas onde se discutirá "Os povos indígenas: Terra, Território e Autonomia Indígena", "Resistência e Autonomia Indígena na História do Brasil" e "Povos Ressurgidos: a Mobilização de indígenas e campesinos no Brasil e no Continente". Na tarde do dia 26, no Portal da CUT, será lançada a campanha "Nós Existimos", promovida por organizações populares e Igreja Católica do estado de Roraima.

Indígenas do México e do Brasil produzem texto sobre problemas em comun

Por ocasião das reuniões preparativas para o III Fórum Social Mundial, representantes de 32 povos indígenas do Brasil e do México redigiram texto partilhando problemas comuns, visando estreitar laços entre os povos indígenas do continente.

Entre os problemas levantados no documento, os indígenas consideram "indispensável que os governos formulem e executem políticas de combate a toda forma de discriminação e preconceito, para que os povos indígenas de todos os países sejam respeitados e possam viver dignamente, contribuindo com suas histórias e culturas para o bem-estar de toda a humanidade".

Outro ponto do documento, denunciado pelos representantes indígenas, foi a expansão do domínio norte americano sobre outros povos, "Os povos indígenas , tanto quanto outras nações, serão novamente vítimas do imperialismo genocida. Por isso, repudiamos a política agressiva dos Estados Unidos contra os povos do Iraque e de outros países".

Além de ressaltarem seus problemas, os indígenas aproveitaram para reafirmar os compromissos tirados do II Fórum Social Mundial, realizado no ano passado.

Brasília, 23 de Janeiro de 2003.
Cimi - Conselho Indigenista Missionário

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