Informe n.º 526


Os Pataxó celebram os três anos da retomada do Monte Pascoal

O povo Pataxó, do Sul da Bahia, promoveu uma grande manifestação no dia 19 de agosto para comemorar os três anos da retomada do Monte Pascoal, que reivindicam como terra indígena tradicional, o primeiro aniversário da construção do Monumento da Resistência, símbolo das lutas indígenas no Brasil, as últimas retomadas de terra e a criação da Frente de Luta e Resistência Pataxó.

Participaram do ato cerca de 350 índios, representando oito aldeias Pataxó. Estiveram presentes também aliados de diversos movimentos e entidades solidárias com a luta dos Pataxó, entre os quais membros do Cimi, da ANAI-Bahia, da Cese, da Procuradoria da República, do sindicato dos Bancários e da Associação dos Professores, da Terra Viva, da Funai e de igrejas. A celebração começou com um momento de oração ritual, dança do toré e cantos dos Pataxó e dos Maxakali. Os representantes da aldeia Cahy carregavam uma grande faixa, pintada com a palavra "Avançaremos".

A manifestação foi coordenada pelo cacique Joel Braz, que descreveu os desafios impostos pelas campanhas dos pistoleiros a serviço dos fazendeiros que usurparam a terra indígena. "Não é fácil enfrentar os pistoleiros, adquirir de volta o que perdeu – tem que ficar se escondendo para não morrer cedo", afirmou Joel, consciente dos riscos de vida que corre, por ter a coragem e determinação de lutar pela reconquista do território de seu povo.

Passando pelo local, um carro do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, Ibama, provocou indignação. O Ibama não reconhece o direito dos Pataxó à terra indígena do Monte Pascoal e pretende manter o local como área de preservação ambiental. Nos discursos dos aliados dos Pataxó, a tônica foi de solidariedade às suas lutas e de repulsa às manobras do Ibama. "É um absurdo essa tentativa do Ibama de colocar novamente aqui uma diretora... Não deixem que pessoas como o Ibama pisem aqui... Que os Pataxó removam todos os intrusos", disse Guga, da ANAI/BA.

Jeferson, da Terra Viva, afirmou: "Essa luta de vocês tem um grande significado para os povos indígenas do Brasil (...). Os inimigos de vocês continuam agindo. Trocaram a estratégia, trocaram os espelhos, as facas, por salários, carros, casa. Não existe nada de gestão compartilhada. Apoiamos a posição da Frente de Resistência de dizer não ao Ibama". O Secretário Executivo do Cimi, Egon Heck, reiterou o total apoio e solidariedade da entidade às lutas dos Pataxó, "que têm se tornado um símbolo para os povos indígenas e uma esperança para todos aqueles que lutam para mudar esse país".

O administrador regional da Funai, Sandro , manifestou-se contra as tentativas do Ibama de dividir os índios. "A luta não acabou, apenas começou", exclamou Sandro. As palavras das lideranças Pataxó foram de grande coragem e firmeza. Dio, cacique do Corumbauzinho, advertiu os funcionários do Ibama para que "não venham aqui querer botar freio no índio, não. A luta começou agora e não vai parar por aqui".

Lídio Matari, cacique do Piqui, pediu apoio aos presentes para que os Pataxó possam se defender dos pistoleiros e retomar a sua terra. "Estou ameaçado de morrer, estamos lá sofridos. Mas agora estou alegre, pois vamos ter a força dos parentes". O cacique Timborana, do Cahy, falou do sofrimento que os índios estão passando no acampamento em Cumuruxativa, enquanto se preparam para retomar suas terras. "Estou ameaçado pela pistolagem e pela bandidagem. Mas temos nosso pai Tupã, que não vai nos deixar morrer. Nós devemos ir dar apoio aos parentes que retomaram o Piqui. Se for pra pegar a unha, nós pega, se for de morrer junto, nós morre!"

Joselito, outro líder, ironizou os Pataxó que assinaram a proposta do Ibama de "gestão compartilhada" do Monte Pascoal, no último mês de abril. "Não devemos aceitar nenhuma negociata. Enganaram, no início, o nosso povo com fitas vermelhas e espelhos, hoje fazem (isso) com emprego, carro e casa mobiliada".

Também discursaram as mulheres. Marlene Pataxó fez questão de dizer que a luta não é sustentada só pelos homens. "Não é só os homens que têm voz, nós também temos. Sou mãe de 13 filhos e não vamos deixar que outros venham de novo aqui dentro. Nós botamos o Ibama pra fora, e por que vamos agora trazer um inimigo pra dentro de nossa casa? Isso aqui é nosso, nós temos direito. Nós morre, mas não dá o braço a torcer. Cada vez que morre um índio, a luta cresce!"

Maria Lica, outra mulher Pataxó, mãe de cinco filhos, um deles de colo, conclamou os Pataxó a se unir, depois de relatar seu enfrentamento com pistoleiros que pretendiam impedi-la de fazer comida para os filhos. "Nós não estamos atrás de capim. Vocês nos expulsaram da mata e agora nos devolvem capim!", foram as palavras que ela gritou para os pistoleiros, revoltada com a destruição provocada a mando dos fazendeiros.

No final da manifestação, os Pataxó divulgaram um manifesto em que reiteram que o Monte Pascoal "foi, é e sempre será terra indígena dos Pataxó" e exigem do governo brasileiro "a demarcação do nosso território Pataxó".


Lula encontra se com lideranças indígenas do pais

Como aconteceu nas campanhas eleitorais anteriores, o candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, vai se encontrar com várias lideranças indígenas para ouvir as suas reivindicações. A reunião acontecerá nesta sexta-feira, 23, entre 17 e 18 horas, no Parque do Mindu, em Manaus, capital do Estado do Amazonas. Entre os assuntos que serão levantados pelos líderes indígenas estão a urgente demarcação das terras indígenas, o problema da violência e a proteção da biodiversidade da Amazônia.

Um dos participantes do encontro é o cacique Joel Braz Pataxó, que integra a Comissão Pós-Conferência, criada para implementar as decisões da Conferência Indígena realizada no ano 2000. Na última segunda-feira, Joel coordenou a comemoração dos três anos da retomada do Monte Pascoal pelo povo Pataxó, quando afirmou que está trabalhando, não apenas na Bahia, mas em todo o país, para fortalecer a candidatura de Lula no movimento indígena.

Brasília, 22 de agosto de 2002
Cimi - Conselho Indigenista Missionário




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