Informe n.º 502


Krahô/Kanela estão em Brasília para pedir socorro

Representantes do grupo Krahô/Kanela liderados pelo cacique Mariano Ribeiro estão em Brasília para denunciar a aflitiva situação que estão vivendo no Assentamento Loroty, no município de Dueré, em Tocantins. Eles estiveram na capital federal em setembro do ano passado para solicitar da Funai a demarcação de sua terra em Mata Alagada, na Ilha do Bananal. Desde então, continuam sem qualquer assistência do órgão indigenista oficial para desenvolver atividades agrícolas, passam fome e recebem constantes ameaças de despejo por parte do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Nessa quarta-feira (6), eles estiveram na liderança do Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados, que se comprometeu a solicitar uma audiência com o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira. Em função da crise política desencadeada pelo afastamento do Partido da Frente Liberal do governo federal, é pouco provável que o ministro receba os índios ainda nesta semana.

Argemiro, um dos líderes do grupo, declarou que a penúria do povo no Assentamento Loroty é tamanha que "se a gente quiser plantar um pé de pimenta, tem que pegar um potinho de terra porque nada ali é nosso".

Descendentes dos grupos Krahô e Kanela do Morro do Chapéu, município de Barra do Corda, Estado do Maranhão, conta-se que este povo foi obrigado a migrar em busca de novas terras por volta de 1924, depois de sofrer um massacre. Em 1963, o grupo migrante foi acolhido pelo povo Javaé da Ilha do Bananal em Mata Alagada, município de Cristalândia. Permaneceu ali ininterruptamente até 1984, quando foi expulso por prepostos da Cervejaria Brahma. O povo então se dividiu. Uma parcela, de 64 pessoas, liderada pelo cacique Mariano Ribeiro, foi transferida pela Funai para o Parque Indígena da Ilha do Bananal. As outras famílias dispersaram-se pelas margens do rio Formoso, onde se encontram até hoje na condição de ribeirinhos.

Como a Cervejaria Brahma continuou com a posse da terra Mata Alagada e a Funai não os reconheceu como índios, os Krahô/Kanela liderados pelo cacique Mariano acabaram sendo expulsos da Ilha do Bananal. Com o apoio do Ministério Público Federal, foram assentados pelo Incra em Tarumã, no município de Araguacema, Tocantins. Insatisfeitos, porém, com o tratamento do órgão, decidiram retomar a luta pelo retorno à Mata Alagada, entendendo que essa é a terra que melhor possibilita a reaglutinação das famílias que estão dispersas e a recomposição de seu modo de vida.

Quando estiveram em Brasília no ano passado, o presidente da Funai, Glênio Alvarez, lhes prometeu iniciar o procedimento administrativo para demarcar sua terra. O primeiro passado seria o seu reconhecimento étnico, por meio de um estudo antropológico. Desde então, a Funai não tomou qualquer providência nesse sentido, alegando falta de verbas. Para exigir o cumprimento do compromisso do órgão indigenista oficial, e evitar novos sofrimentos ao seu povo, as lideranças Krahô/Kanela decidiram retornar a Brasília, dando mais alguns passos na árdua e longa luta que travam para conquistar a sua terra sem males.

Secretário-geral da CNBB recebe delegações indígenas

O secretário-geral da CNBB, Dom Raymundo Damasceno recebeu em Brasília, no dia 5 de março, integrantes da Comissão Indígena Pós-Conferência e líderes das delegações dos povos Krahô-Kanela e Pataxó-Hã-Hã-Hãe. As duas representações estão em Brasília para tratar da retomada de suas terras junto às autoridades governamentais.

O encontro aconteceu no clima da Campanha da Fraternidade, que este ano tem como tema a luta dos povos indígenas "Por uma Terra sem Males". Teve como objetivo estreitar o diálogo entre esses povos e a CNBB, por meio de um conhecimento mais direto de suas realidades.

Dom Damasceno afirmou que a Campanha da Fraternidade está tendo uma boa acolhida em todo o país e disse esperar que "que ela não fique apenas no entusiasmo, mas que efetivamente contribua para a defesa dos direitos dos povos indígenas".

Informe "O mundo que nos rodeia" completa dez anos

Há duas semanas veiculou-se a 500ª edição do informe "O Mundo que nos Rodeia", preparado pelo Secretariado Nacional do Cimi para divulgar a Causa Indígena. O primeiro número do boletim foi publicado há dez anos, no dia 26 de março de 1992, com um resumo do balanço das violências cometidas contra os povos indígenas no ano anterior.

Atualmente, o informe é divulgado em 28 países dos cinco continentes nas versões em português, inglês, alemão e italiano.

O Setor de Documentação do Cimi em Brasília tem todos os números do informe indexados, à disposição dos pesquisadores.

Brasília, 07 de março de 2002.
Cimi - Conselho Indigenista Missionário




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